A cirurgia bariátrica, popularmente conhecida como redução de estômago, é um procedimento médico que visa ajudar pessoas com obesidade grave, a perder peso significativo. Desse modo, os médicos consideram essa cirurgia quando outras medidas, como dieta, exercícios e tratamentos não cirúrgicos, não foram eficazes na perda de peso ou no controle de doenças associadas à obesidade.
A obesidade, por sua vez, é uma condição médica caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, o que pode levar a problemas de saúde e aumentar o risco de várias doenças crônicas. O índice de massa corporal (IMC), que é calculado dividindo o peso em quilogramas pela altura em metros ao quadrado, geralmente determina a condição de obesidade. Um IMC igual ou superior a 30 kg/m² é considerado obesidade.
No entanto, existem uma série de critérios que devem ser adotados para uma pessoa realizar uma cirurgia bariátrica. Isso se deve ao fato de que o estômago, local onde ocorre intervenção cirúrgica, desempenha diversas funções relacionadas a variados sistemas, como endócrino, imune e nervoso. Em outras palavras, o procedimento cirúrgico pode afetar negativamente esses sistemas.
Por isso, neste artigo abordaremos as indicações adequadas para passar por procedimentos cirúrgicos, suas relações com os sistemas e dicas sobre como melhorar o sistema imunológico após a cirurgia.
Riscos da obesidade: saiba quando a intervenção cirúrgica é necessária!
A obesidade pode ser resultado de uma combinação de fatores genéticos, comportamentais e ambientais. Alguns dos principais fatores que contribuem para o desenvolvimento da obesidade incluem dieta inadequada, sedentarismo, genética, fatores socioeconômicos, alterações hormonais, estresse e emoções.
Independente do motivo, a obesidade é uma condição que pode resultar em diversas complicações significativas. Vejamos alguns exemplos de doenças relacionadas à obesidade:
- Doenças cardiovasculares, como hipertensão arterial e doenças coronárias;
- Diabetes tipo 2;
- Distúrbios respiratórios, como apneia do sono;
- Doenças articulares, como osteoartrite;
- Problemas hepáticos, como esteatose hepática (fígado gorduroso);
- Distúrbios metabólicos;
- Problemas psicológicos, como depressão e baixa autoestima;
- Cânceres, como câncer de cólon e câncer de mama (em mulheres pós-menopausa).
Tendo em vista essas informações, é notório que o tratamento da obesidade é essencial. Essa intervenção consiste em uma abordagem multifatorial, que inclui mudanças no estilo de vida, como adoção de uma dieta saudável e equilibrada, aumento da atividade física, e aconselhamento comportamental. Em alguns casos, a medicação ou cirurgia bariátrica podem ser consideradas como opções de tratamento.
Indicações para cirurgia bariátrica: como saber se é o momento?
Antes de optar pela cirurgia bariátrica, é importante destacar, que esse procedimento não é uma opção de tratamento para todos os casos de obesidade. Sendo assim, a decisão de se submeter a essa cirurgia deve ser cuidadosamente avaliada por uma equipe médica especializada. O primeiro passo é procurar ajuda de um profissional médico. Ele certamente trará uma abordagem multidisciplinar com outros profissionais de saúde, como nutricionista, psicólogo, educadores físicos e fisioterapeutas.
Essa equipe é responsável por avaliar alguns critérios para a cirurgia. Assim, existem indicações clássicas, exigências e contraindicações, para garantir o cuidado adequado e seguro durante todo o processo de decisão e recuperação.
INDICAÇÕES CLÁSSICAS:
¬ IMC maior ou igual a 40;
¬ IMC entre 35 e 40 na presença de alguma comorbidade relacionada;
¬ IMC entre 30 e 35 com diabetes tipo 2, sem melhora ao tratamento conservador atestado por 2 endocrinologistas;
“EXIGÊNCIAS”:
¬ Tentativa de tratamento conservador, por pelo menos 2 anos;
¬ Pacientes maiores de 18 anos;
¬ Não ser usuário de drogas ilícitas.
Além disso, em condições ideais, deve-se controlar as doenças de base de maneira clínica antes da cirurgia.
Os principais procedimentos cirúrgicos: o que você precisa saber.
A cirurgia bariátrica é o nome geral utilizado para descrever os procedimentos cirúrgicos envolvidos no tratamento da obesidade. No entanto, existem diversas técnicas cirúrgicas disponíveis. Vamos conhecer os principais procedimentos cirúrgicos, utilizados para tratar a obesidade.
Bypass gástrico (Gastric Bypass): Neste procedimento, uma pequena bolsa é criada no topo do estômago, separando-a do restante. Em seguida, uma parte do intestino delgado é conectada diretamente à bolsa, desviando a rota normal dos alimentos. Isso reduz a quantidade de alimentos que o paciente pode comer, e também diminui a absorção de calorias e nutrientes pelo organismo. O bypass gástrico é uma das cirurgias bariátricas mais comuns e eficazes.
Gastrectomia vertical (Sleeve gástrico): Nesta cirurgia, uma grande parte do estômago é removida, deixando um estômago em forma de tubo ou “sleeve”. A capacidade do estômago é significativamente reduzida, o que leva a uma sensação precoce de saciedade e à perda de peso. Além disso, a cirurgia também reduz a produção do hormônio grelina, que está envolvido no controle do apetite.
Banda gástrica ajustável (Adjustable Gastric Band): Nesse procedimento, uma banda inflável é colocada ao redor da parte superior do estômago, criando uma pequena bolsa. A banda pode ser apertada ou afrouxada, para controlar a passagem dos alimentos e a velocidade de esvaziamento do estômago. Isso ajuda a controlar a quantidade de comida que o paciente pode comer e promove a perda de peso.
Derivação biliopancreática com switch duodenal (Biliopancreatic Diversion with Duodenal Switch – BPD/DS): Essa cirurgia é uma combinação da gastrectomia vertical, com a criação de um desvio no intestino delgado. Uma parte do intestino é desviada, reduzindo a absorção de calorias e nutrientes pelo organismo. Essa cirurgia é mais complexa e geralmente é indicada para pacientes com obesidade mórbida ou quando outras cirurgias não são eficazes.
Sistemas interligados: descubra a importância da relação do estômago com o corpo!
Uma das maiores questões relacionadas à cirurgia bariátrica, é a deficiência de vitaminas e alterações emocionais. Essas questões são frequentemente relatadas devido ao papel crucial do estômago na absorção de variadas vitaminas e minerais, bem como na produção e secreção de hormônios e neurotransmissores.
De maneira geral, existem alguns pontos bastante positivos no sistema imune como a redução da inflamação. Isso porque a obesidade está relacionada a um processo inflamatório crônico. Desse modo, após a cirurgia, com a perda de peso, alguns pacientes experimentam uma melhora significativa na inflamação sistêmica.
No entanto, embora a cirurgia bariátrica possa ter efeitos benéficos no sistema imunológico, também é importante considerar possíveis efeitos negativos que podem surgir em alguns pacientes. Alguns dos efeitos negativos no sistema imune após a cirurgia bariátrica podem incluir:
Risco aumentado de infecções: a cirurgia bariátrica pode levar a alterações no sistema imunológico, e em alguns casos, pode ocorrer uma supressão excessiva da resposta imune. Isso pode aumentar o risco de infecções, pois o corpo pode ter mais dificuldade em combater bactérias, vírus e outros patógenos.
Deficiências nutricionais: após a cirurgia bariátrica, especialmente com procedimentos como o bypass gástrico e a derivação biliopancreática, a absorção de nutrientes e vitaminas pode ser afetada. Deficiências de nutrientes, como vitamina A, vitamina K, vitamina E, vitamina D, vitamina B12, ferro e zinco, podem comprometer a função adequada do sistema imunológico.
Alterações no microbioma intestinal: o procedimento cirúrgico pode afetar a composição do microbioma intestinal, que desempenha um papel crucial na regulação do sistema imunológico. Mudanças no microbioma, podem afetar negativamente as respostas imunológicas e a saúde intestinal.
Portanto, mais uma vez: a cirurgia bariátrica DEVE ser muito bem indicada. E quando há indicação, DEVE ser realizada. Por isso, existem algumas medidas que podemos adotar para minimizar os efeitos indesejados e otimizar o sistema imunológico.
8 Dicas para otimizar o sistema imunológico, após cirurgia bariátrica.
Após a cirurgia bariátrica, é importante adotar cuidados específicos para melhorar e fortalecer o sistema imunológico. A intervenção cirúrgica pode levar a mudanças no sistema imune e também afetar a absorção de nutrientes, tornando essas práticas pós-operatórias ainda mais relevantes para a saúde geral do paciente.
Aqui estão as 8 dicas importantes para seguir no pós-operatório:
Acompanhamento médico regular: manter um acompanhamento médico adequado, é fundamental para monitorar a saúde geral, incluindo a avaliação do sistema imunológico e a identificação de possíveis deficiências nutricionais.
Dieta equilibrada e suplementação nutricional: seguir uma dieta equilibrada e rica em nutrientes, é essencial para melhorar o sistema imunológico. Isso pode incluir alimentos ricos em vitaminas (como vitamina C e vitamina D), minerais (como ferro e zinco) e antioxidantes. Além disso, pode ser necessário tomar suplementos nutricionais conforme indicado pelo médico ou nutricionista para prevenir deficiências nutricionais.
Hidratação adequada: beber água em quantidade suficiente é importante para manter a hidratação e o bom funcionamento do organismo, inclusive do sistema imunológico.
Atividade física: a prática regular de exercícios físicos pode fortalecer o sistema imunológico e melhorar a saúde geral. É importante seguir as orientações médicas e começar gradualmente, de acordo com a capacidade física do paciente.
Gerenciamento do estresse: o estresse crônico pode afetar negativamente o sistema imunológico. Encontrar maneiras saudáveis de gerenciar o estresse, como meditação, ioga, hobbies ou atividades relaxantes, pode ser benéfico.
Sono adequado: garantir um sono de qualidade, e em quantidade suficiente é essencial para o funcionamento adequado do sistema imunológico.
Evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool: o tabagismo e o consumo excessivo de álcool podem enfraquecer o sistema imunológico e aumentar o risco de infecções.
Evitar o uso desnecessário de antibióticos: o uso excessivo de antibióticos, pode afetar negativamente a saúde do microbioma intestinal e, consequentemente, o sistema imunológico. É importante utilizar antibióticos somente quando prescritos por um profissional de saúde.
Recuperação pós-cirurgia bariátrica: o papel da suplementação de nutrientes.
A suplementação de nutrientes após a cirurgia bariátrica, é comum e essencial para evitar deficiências nutricionais, já que a cirurgia pode afetar a absorção de nutrientes pelo organismo. A quantidade e o tipo de suplementos necessários podem variar de acordo com o tipo de cirurgia bariátrica realizada, o estado de saúde individual do paciente e as necessidades nutricionais específicas. No entanto, algumas suplementações são essenciais.
- Multivitamínicos e minerais: suplementos multivitamínicos e minerais são geralmente prescritos para fornecer uma variedade de nutrientes essenciais. Eles podem incluir vitaminas como a vitamina D, vitamina B12, vitamina C, tiamina (vitamina B1), riboflavina (vitamina B2), entre outras. Minerais como ferro, zinco e cálcio também são frequentemente incluídos em suplementos.
- Vitamina B12: a deficiência de vitamina B12 é comum após a cirurgia bariátrica, especialmente em procedimentos que envolvem a redução do estômago. A suplementação de vitamina B12 é necessária para prevenir anemia e outros problemas de saúde relacionados à deficiência dessa vitamina.
- Vitaminas lipossolúveis: de maneira geral, as vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) sofrem uma queda considerável em pacientes bariátricos. Essas vitaminas são essenciais no combate de radicais livres, saúde dos vasos sanguíneos, sistema imune, saúde dos ossos e pele.
- Ferro: o ferro é importante para prevenir a anemia e garantir a saúde do sangue. A suplementação de ferro pode ser necessária, especialmente em cirurgias que alteram a absorção de nutrientes.
- Cálcio e vitamina D: esses nutrientes são essenciais para a saúde dos ossos e dentes. A suplementação pode ser necessária para evitar a deficiência e prevenir problemas ósseos.
- Proteína: a proteína é um nutriente importante para a cicatrização de feridas, e a manutenção da massa muscular. Em alguns casos, suplementos de proteína podem ser recomendados para garantir a ingestão adequada.
- Ácido fólico: o ácido fólico é importante para a saúde do sistema nervoso e, para mulheres em idade fértil para prevenir defeitos do tubo neural em caso de gravidez.
É fundamental que os pacientes sigam as orientações e prescrições médicas e nutricionais, após a cirurgia bariátrica, incluindo a suplementação adequada. A suplementação deve ser personalizada para atender às necessidades individuais de cada paciente.
CONCLUSÃO:
Em resumo, a cirurgia bariátrica é uma abordagem importante no tratamento da obesidade. No entanto, existem alguns riscos como toda cirurgia e deve estar sempre bem indicada. As principais questões envolvidas acerca da cirurgia bariátrica, giram em torno das hipovitaminoses.
Como o estômago é um órgão de extrema importância na absorção de nutrientes, sobretudo vitaminas e minerais, o processo cirúrgico pode levar a uma queda nos níveis de algumas vitaminas no organismo. Com isso em vista, é primordial que o paciente pós-bariátrico mantenha um acompanhamento regular com a equipe multidisciplinar de saúde.
Esse acompanhamento visa avaliar as condições clínicas, e estabelecer medidas, como dieta adequada, atividade física e suplementação nutricional, de maneira individualizada, a fim de minimizar os efeitos negativos da hipovitaminose e otimizar o sistema imunológico do paciente.
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